Descarbonização
Deve estar na base dos negócios do futuro
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O processo de descarbonização é que deve estar na base dos negócios do futuro, defende Marina Esteves Vergueiro de Almeida, coordenadora de projetos em Clima e Meio Ambiente do Instituto Ethos. “Sabemos os impactos da mudança do clima nos negócios e nos modos de vida e ainda temos tempo para optar por práticas mais sustentáveis e evitar a escalada da crise climática”, afirma.
Segundo Marina, a atuação responsável em ESG será condicionante para a própria continuidade do negócio, e não apenas para melhorar a imagem ou o compliance da companhia. “Os investimentos serão priorizados conforme a capacidade de implementação de planos de descarbonização, somados à redução dos impactos sociais. Entendo que diversos setores ainda não tenham priorizado a descarbonização pela dificuldade de diversificar os negócios poluentes que, por sua vez, serão altamente impactados.”
A morosidade para mudanças visíveis também incomoda parte das empresas brasileiras que nem sempre conseguem avançar por questões estruturais. Segundo Viviane Romeiro, diretora de Clima, Energia e Finanças Sustentáveis do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS), há três temas recorrentes nessas conversas no setor privado: a incerteza regulatória, a dificuldade em engajar cadeias de valor e a falta de amplo acesso a dados e referências no Brasil. “A falta de regulações claras, tanto nacionais quanto internacionais, dificulta o avanço de investimentos na redução de emissões. Para mitigar isso, o CEBDS vem liderando nos últimos anos um forte trabalho de articulação e engajamento com atores-chave para a aprovação dessas regulamentações, com destaque para a criação de um mercado nacional regulado de carbono”, explica Viviane.
Em relação ao engajamento das cadeias de valor na questão ambiental, a executiva do CEBDS destaca a dificuldade de sensibilizar e apoiar empresas de médio e pequeno porte a reduzirem as emissões. “Além da questão financeira, existe a necessidade de nivelar conhecimento climático entre as empresas e também a de dar prioridade para o tema frente a outras áreas do negócio. Em empresas menores, a sobrevivência financeira pode ser um desafio que ocupa toda a agenda da liderança, restando pouco espaço para a discussão climática”, diz.
Outro ponto que preocupa, segundo Viviane, é a falta da tropicalização de dados. Números sobre fatores de emissão por produtos ou em relação aos custos de tecnologia de redução de emissões estão majoritariamente disponíveis dentro do contexto do hemisfério Norte. “É uma realidade que dificulta o avanço de empresas brasileiras, que podem não conseguir medir de forma precisa suas próprias emissões. Por exemplo, as emissões de produção agrícola podem variar de forma substancial se compararmos as condições de solo, clima e matriz energética entre Brasil e Europa.”
Para tentar acelerar as práticas de descarbonização no setor corporativo, o CEBDS lançou a Plataforma Net Zero, em novembro de 2022. “Fornecemos apoio prático à implementação de processos de descarbonização nas empresas, trabalhando com capacitações, processos de advocacy e engajamento, conexão e colaborações”, explica Viviane.
Atualmente mais de 50 empresas de grande porte estão engajadas diretamente no programa. Entre as entregas previstas ainda em 2023, o CEBDS destaca: a solução-guia de descarbonização, ferramenta digital que reunirá as melhores orientações disponíveis em nível global para que empresas reduzam as próprias emissões, e o hub de regulação climática.
Fonte: O Estado de São Paulo